Doze Tribos e a vida em comunidade #11
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Doze Tribos e a vida em comunidade #11
Após sair da Chácara Marfil, em Bocaiuva do Sul, segui para Campo Largo, com as Doze Tribos novamente como destino. O trajeto de uma cidade a outra, passando por Curitiba, foi bem rápido. Ao chegar na entrada da comunidade, ficou claro que estava no lugar certo.
A saudação “bem-vindo” é inconfundível. Adentrar no sítio era como reencontrar as pessoas encantadoras que conheci em Itapecerica. Ao estacionar o carro, logo começaram a aparecer os mansos anfitriões. Um a um, cada integrante da comunidade que estava por perto vinha entender quem era o forasteiro. Como na comunidade há quase cem pessoas, vou me reservar de dizer muitos nomes, até porque todos são hebraicos e provavelmente não os escreveria corretamente. O importante é que cada indivíduo que de mim se aproximava, tinha incrivelmente o mesmo olhar penetrante, o mesmo timbre suave, as mesmas características que havia reparado em Itapecerica. Dentre elas, cordialidade e mansidão.
Natanael, um dos mais velhos da comunidade, já havia recebido contato de Itapecerica anunciando minha passagem por Campo Largo. Logo trataram de me acomodar no alojamento dos homens solteiros, pois é assim que mantém certa disciplina no que tange relacionamentos entre homens e mulheres. Tão logo minhas coisas estavam acomodadas, fui direto pra indústria, onde a comunidade produz e embala o quase famoso chá orgânico Tribal, que hoje é uma das maiores fontes de renda da comunidade, assim como nos EUA é a Yellow Deli. Trabalho simples e prático, embalar os chás que vão para tantas prateleiras pelo Brasil (sério, quase todo lugar que eu vou, alguém já provou desse chá, e é muito bom!). Momento apropriado para conhecer alguns dos irmãos que trabalham por ali, e, obviamente, não seria EU, se não houvesse dezenas de conversas sobre as profundezas de nós, serhumaninhos.
Tive a oportunidade de conhecer Halaf, um senhor de uns 60 e poucos anos, norte-americano. Embora arriscasse um português razoável, meu maior contentamento foi poder conversar 99% do tempo em inglês com ele, por quatro dias direto. Além de estar com ele em algumas atividades na Tribal, ele estava acomodado no alojamento dos solteiros. Haja inglês pra desempoeirar do cérebro! Mor legal…
Por falar em acomodado, não podia faltar o mimo de boas vindas, que simplesmente surge na sua cama quando você chega no quarto. Dessa vez era um pacote repleto de chás Tribal, de todos os sabores. Aproveitei a simpatia do pessoal do escritório e enviei alguns pra minha mãe em SP, de surpresa. Chegou pelo correio umas duas semanas depois que eu havia enviado, o que foi engraçado pois eu já nem estava mais lá. O que importa é que minha mãe curtiu…rs
Ademais, fiquei estupefato com a vida em comunidade. Há um choque de realidade impressionante, um choque de consciência. São mais de 20 famílias, quase 100 pessoas, compartilhando tudo e delegando as tarefas. Reunindo-se TODOS OS DIAS sem exceção na grande tenda, às 7h da matina e às 19h para o Minchá, ou seja, a oração em sacrifício, onde ocorrem as orações, os agradecimentos e claro, as belíssimas e contagiantes danças circulares. Sobre as danças, destaco uma conversa interessante. No último dia, quando já havia conquistado a simpatia de muitos e a amizade de alguns, um deles me disse: “Reparei na tua reação no primeiro dia, ao ver as danças circulares. Você parecia encantado, vidrado, com os olhos brilhando e um sorriso que não cabia no rosto”. De fato, ele estava certo. Lembro-me muito bem da sensação, e da visão que tive. Crianças e adultos giravam graciosamente naquela tenda, como se flutuassem, todos juntos, de mãos dadas. Era como um gerador humano de energia circular. Fiquei hipnotizado. O Minchá é um momento muito especial, onde se pode conhecer um pouco mais sobre cada integrante daquele círculo, pois ali eles realmente abrem o coração.
O dia a dia foi suave, fluiu. Trabalhei um pouco na indústria, mas acabei ficando mais com os rapazes que cuidam da horta e dos bichos. Tive oportunidade de mexer um pouquinho na terra, e aprender o que, provavelmente, será o cerne do meu futuro: agricultura. Na sexta-feira começou o Shabat, e até eu me arrisquei nas danças circulares, uma delícia de participar! A semana foi regada de refeições deliciosas e muitas conversas. Impressionantemente conheci praticamente as 100 pessoas que ali compartilham tudo. Conversei muito, com homens, mulheres e até com as crianças. Ainda tive tempo de jogar o famoso vôlei no sábado de manhã, e logo em seguida parti, vendo pelo retrovisor um dia lindo, em que todos os moradores da comunidade se reúnem no gramado para descansar e aproveitar o dia que, a princípio, Deus efetivamente reservou para o descanso e apreciação de sua obra.
É desnecessário reforçar o cerne da comunidade, mas o farei. A interpretação (deles) sobre a bíblia é a essência. Através de diversas modulações no comportamento diário, na forma de pensar e agir, onde não só vale sua postura perante os outros, mas perante você mesmo e sua consciência com Deus, a comunidade consegue, há muitos anos, doutrinar-se de maneira contínua. Relacionamentos entre homem em mulher, criação dos filhos, participação nas tarefas da comunidade. Tudo isso é diariamente reforçado, através dos Minchás, reuniões pontuais ou mesmo nas relações do dia a dia. Tudo o que acontece, todos os diálogos, tudo puxa uma referência de alguma passagem da bíblia. Não adianta eu me estender muito por aqui, esses posts estão me deixando numa saia justa danada de limitação de conteúdo. O que vivo, vejo, percebo em lugares que tenho visitado, tal qual as Doze Tribos, explodem minha cabeça e inundam meu coração, e acredito que só estando lá pra entender um pouco do que estou aqui me arrastando pra tentar explicar. Portanto, caro post, se teu intuito é compartilhar e, quem sabe, gerar interesse, espero que estejas cumprindo bem tua função, pois, sem mais delongas, é isso que tenho a dizer sobre minha fantástica experiência com as Doze Tribos. Seja por religião ou não, é um lugar que encontrei que FUNCIONA em muitos aspectos. Vá e veja, caro post.
Fico ainda mais impressionado com o que tenho conhecido nessa jornada. É curioso, pois já faz algumas semanas que deixei as Doze Tribos, e a imersão em suas crenças mexe com o espírito de quem está de mente e coração abertos. Assim como PETAR ou Marfil, onde a imersão é plena, e deixa marcas, espero transformar essa grande bagunça de ideias, sentimentos e conceitos numa grande colcha de retalhos, do mais puro material humano (leia-se Cosmos).
Pra terminar, consegui conciliar minha saída das Doze Tribos em Campo Largo, com mais uma passadinha na feira do Passeio Público, em Curitiba. Afinal, era caminho pro meu próximo destino, era sábado, era meio dia, e com certeza a família Marfil estaria lá. Batata! Deu pra dar um abracinho a mais em quase todos! Rolou até um almocinho com Manu, José, Vini e Valeria (dois novos amigos). Só pra dar mais um gostinho…
#partiuSantaCatarina! #partiuJoinville #partiureencontrarsuacriançainterior
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